quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sobre ter depressão II

Eu já havia ido a alguns psiquiatras, uns três ou quatro, e todos eles me receitavam alguma medicação; eu comprava os remédios e não tomava por mais do que quinze dias. Na verdade, não queria tomar remédios, achava que um remédio só iria mascarar meus sintomas, não queria ficar dependente de nada. Ainda acreditava que eu poderia sair disso sozinha.

Então procurei muitas coisas: terapia, análise, apometria quântica, florais, hipnose, ayahuasca, fumei sálvia, comi cogumelos, tudo procurando tentar me entender, tentar chegar lá no fundo e descobrir a razão de eu ser assim; achava que se eu descobrisse, que se conseguisse chegar na raiz de tudo, que talvez eu superasse e conseguisse ficar bem.

Acontece, meus amigos, que tudo isso só serviu pra me mostrar que às vezes a gente não tem como fugir do que está entranhado na gente, não tem como fugir do que nos compõe. Eu tenho genes "tristes", "defeituosos". Meu pai tinha transtorno de humor bipolar e minha mãe também tem transtornos de humor. Se juntarmos os dois e somarmos com todo o resto e como tudo me afetou, na minha infância, na minha adolescência, na minha vida adulta, só podia dar merda.

Diante de tanto levar a vida com a barriga e de sentir que me distanciava muito do que eu gostaria de ser, percebi finalmente que precisaria de uma ajuda que me fizesse sentir melhor, que fosse capaz de fazer o meu cérebro produzir substâncias que eu não consigo fazê-lo produzir só pela minha vontade. Porque por mais que meu desejo consciente seja o de estar bem, na prática, eu não conseguia produzir nenhum movimento que me levasse a isso. Tudo é muito custoso, cansativo, irritante. A cabeça fala: vai! - só que o corpo fala: não, fica aqui, vamos dormir, vamos comer, tá ficando tudo cagado, mas não vamos pensar nisso...

Daí, depois de tanta negação, de tanta hesitação, de tanta prostração, decidi procurar novamente por um psiquiatra. Faz um mês que estou tomando uma medicação e acho que ela já começou a produzir algum efeito. Ela tem me acalmado e minha postura está lentamente mudando. Começo a produzir o movimento, começo a sentir que estou saindo do buraco em que estava, em que ainda estou. Não é uma beleza e nem é instantâneo; ainda tenho uns dias punks, em que me arrasto pela casa e fico deitada, sem grandes vontades, mas voltei a ouvir músicas e a cantar; não é muito, mas estou aqui também, escrevendo, me expondo, porque hoje, mais do que nunca, acho que é importante pra mim assumir que tenho uma condição que não me incapacita, mas que debilita a minha vida e não quero viver assim pra sempre.

As pessoas têm problemas em falar a respeito da depressão, têm problemas em falar que sofrem, que não são felizes o tempo todo, que não têm um prazer enorme em viver. Elas têm problemas em falar sobre qualquer coisa que envolva o seu mental, porque ter uma doença mental leva o senso comum logo pra loucura. Não se trata de loucura, trata-se de sofrimento psíquico, dor que não é aparente, mas que machuca, cutuca a gente diariamente e nem com a melhor das boas vontades, nem com o melhor dos conselhos, não se cura.

Busquei ajuda porque não quero ficar na sombra, me consumindo, me diminuindo, achando que o problema sou eu como um todo. Não, o problema está em uma deficiência do meu cérebro, mas não sou eu. Eu, quando pequena, sempre achei que teria uma "missão" especial, achava que estava aqui pra fazer a diferença, pra tocar as pessoas, mas depois que cresci, depois de como passei a me sentir, não conseguia mais alcançar aquela menina, nem fazer nada de especial.

Agora, quero muito reencontrá-la e dizer a ela que sim, podemos fazer o que quisermos.

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