terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sobre ser (in)competente

Antes de entrar na (in)competência em si, devo dizer que ela anda de bracinhos dados com a desistência; olhando nos rascunhos do blog, vi o título de um texto: Sobre desistir e desistências e, adivinhem? Só havia o título mesmo, porque nem sei, mas desisti de escrever sobre o tema e isso muito tem a ver com não me achar competente, boa o bastante; uma chateação sem tamanho.

Esse sentimento de não ser capaz vem "desde sei lá quando", junto com o "não faço ideia de como cheguei aqui, nesse estado", e deve ter suas raízes lá na infância, como quase tudo de bom e de ruim que vai compondo a gente e nos transformando em seres complexos, cheios de buracos, cheios de vazios mal preenchidos e cheios de inseguranças maquiadas de ego grande e falsa modéstia.

Essa semana estava olhando minha lista de resoluções deste ano, que escrevi no dia 31 de dezembro de 2014; eram 13 resoluções e eu mal e porcamente cumpri três. Mas peraí, Karla, mal e porcamente porra nenhuma, cumpriu lindamente!

Percebam que não é a Karla, ser uno, que escreve esse texto, sou eu e algumas de minhas nuances. Eu tô aqui, neutrinha, neutrinha, mas conheçam o meu lado dito "incompetente" e o meu lado dito "esforçado". O Esforçado poderia ser chamado de lado competente, mas o lado Incompetente ainda exerce um poder ligeiramente maior sobre ele e acha que não merece um nome tão melhor, ou seja, você é Esforçada, mas não chega a ser "competente"; dá pra entender?

Eu não questiono isso pela simples razão de achar que realmente não mereço ser chamada de Competente, porém, apesar disso consigo reconhecer meu esforço e perceber que estou aqui, lutando com uma "galera interna" pra ver se consigo me sobressair sobre mim mesma. Não é fácil e dá um trabalho do cão!

Tenho uma crença muito negativa que me diz que não sou muito boa em nada do que faço. Eu acho que isso acontece não porque não sou boa de fato, mas porque sempre insisto em me comparar com os outros e, daí, sempre haverá alguém melhor mesmo; acontece que isso me afeta tão profundamente que eu simplesmente esqueço que se há melhores, há também os piores do que eu! Ahááá!!! Então, penso que nasci pra ser aquela mediana, medíocre, brochante, nem boa nem ruim, picolé de chuchu... sem contar que preciso me lembrar dos piores que eu pra me sentir menos pior do que eles e talvez, só talvez - porque tudo é questão de perspectiva -, esses piores, mesmo sendo piores aos meus olhos, não se vejam assim porque podem ter outras questões mais importantes a tratar na vida...

Pela perspectiva, eu deveria pensar mesmo é que nunca serei a mais foda da história da humanidade em tudo, masss, sou muito boa em coisas que me satisfazem e nem tão boa em outras coisas, assim como acontece com todas as pessoas. Por exemplo, eu sou muito boa em fazer as minhas próprias unhas; dos pés AND das mãos! Só preciso estar inspirada, porque unhas bem feitas exigem uma tarde toda de foco e concentração. Graças ao meu talento para comigo mesma, não gasto com manicures. Acho que já fiz as unhas meia dúzia de vezes no salão em toda a minha vida. Até para o meu casamento, eu mesma fiz na véspera e oh, ficaram bem bonitas!

Claro que passo por épocas em que fico meses sem chegar perto de um vidro de esmalte, ou faço e arranco bifes ou borro uma unha e tenho que fazer tudo de novo, profiro um sem número de palavrões e tenho vontade de mergulhar numa porra de uma banheira de acetona, mas não, limpo a cagada e continuo. Sou muito boa também em outras coisas que não me lembro agora, mas asseguro que sou competente em outras áreas além de fazer bem "minhas próprias unhas quando tenho vontade e inspiração para isso"; é só que não me ocorre mais nada por enquanto hehe.

Voltando às resoluções, disse que cumpri três delas e não vou falar das que não cumpri, porque não preciso desse tipo de lembrança da minha incompetência, fracasso ou como vocês quiserem chamar.

A primeira, na verdade, não posso dizer que cumpri, mas fiz a minha parte, porque ela não dependia totalmente de mim. Eu havia dito que operaria as veias das minhas pernas que fazem aparecer aqueles vasinhos malditos, varicoses, que enfeiam a gente e fazem parecer que temos teias de aranhas nas pernas! Fui ao médico, e ele me disse que só se opera em última instância, blá blá blá, vamos fazer secagem, blá blá blá... eu fiz e parece que as coisas ficaram piores e, como fiquei bastante desapontada com o resultado, não voltei mais nem voltarei. Ano que vem vou tratá-las com laser! Vamos ver se dá certo. Bom, não operei porque o médico falou que não deveria. Okay, uma já foi.

A segunda foi parar de fumar. Muita tristeza no coração. Muita vontade de fumar quando saía, quando bebia, quando conversava, quando estava puta, quando estava feliz, muita saudade de fumar enquanto estava viva resumidamente! Olha, parei na raça! Nos três F's da galera fitness: força, foco e fé. Claro que dei umas fumadinhas ocasionais, mas que não foram o suficiente para me jogar de volta no vício. Acho que a fase da fissura já passou. Seguro bem melhor a onda e só sinto vontade de fumar em casos de muito amor (conversas com pessoas queridas que não vejo há muito tempo e que fumam, fdp!) ou de muito ódio (estresse em nível cavalar), mas no geral, apesar do marido fumante, fico bem de boa na lagoa sem o cigarro. Comecei um novo tratamento para minha asma e já não uso a bombinha há uns dois meses (?). Tenho que confessar que me sinto bem melhor sem o cigarro e que o seu cheiro eventualmente me incomoda, apesar de de vez em quando ele me trazer uma grande sensação de nostalgia. Quem sabe quando eu estiver com uns 75 anos volto a fumar, já que não dará mais tempo de desenvolver um câncer?!

A terceira coisa, a que me desafiou intelectualmente - e esse lado me perturba tanto... porque me sinto burra, muito burra, burra pra caralho de vez em quando (!!! ) -, foi fazer uma disciplina do mestrado de História como aluna especial. Foi assim: a resolução dizia que eu deveria estudar e me preparar para fazer o mestrado. Então surgiu a possibilidade de eu fazer uma disciplina como aluna especial, que poderia ser validada posteriormente. Eu me inscrevi (mas o lado incompetente já dizia que não seria selecionada porque não tinha nada no Lattes, porque não era uma disciplina da minha área de formação, porque eu era BURRA e isso estava estampado na minha inscrição), e tcharam! fui selecionada!!! =)

Mas, sempre prevendo que "ser selecionada é fácil, difícil é fazer a disciplina!". Beleza! Primeiro dia de aula, a professora explicou como seriam as aulas, como seriam as avaliações, quantos seriam os textos e disse que deveríamos escrever um artigo para a conclusão da disciplina. Fiquei com esse artigo na cabeça desde o primeiro dia, em pânico porque, para escrevê-lo, deveríamos articular textos da matéria com o nosso projeto de mestrado, pro-je-to de mes-tra-do!!! Puta que pariu! Eu não tinha um projeto de mestrado, eu nem estava no mestrado! Eu quero fazer um mestrado, mas não faço ideia de qual seria meu tema, meu problema, meu projeto!

Fui segurando a ansiedade porque até que conseguia debater os textos nas aulas; não parecia algo tão de outro mundo. Na minha cabeça, fazer um mestrado ou um doutorado era algo para as pessoas iluminadas, sabe? Algo muito complexo, difícil, demandante e continuo pensando isso, a diferença é que agora eu penso que isso pode ser acessível para mim também. Quando chegou a hora de sentar a bunda na cadeira e escrever o tal artigo, quando eu sequer sabia sobre o que escreveria, eu pensei inúmeras vezes: O que eu tô fazendo aqui? Pra que fazer isso? É muito difícil pra você! Desiste logo! Você não é historiadora! Você não tem leitura! Você não tem projeto de pesquisa! Você não tem fontes! Você não tem capacidade pra isso! Você é burra, vai desistir porque nunca acaba nada do que começa... hahaha

E cada vez que eu pensava todas essas coisas, pensava também: fodeu! Porque ter uma vozinha satânica dentro de você e saber que essa voz é sua é muito ruim; é muito triste... saber que a gente não acredita em si mesmo dói pra caramba. Saber que a letargia tem um poder enorme sobre você e que ela acha que gostoso mesmo é comer e dormir; pouco ou nenhum esforço é igual à pouca ou nenhuma recompensa, mas tudo bem, porque fazer qualquer coisa dá muito trabalho e você não quer ter trabalho... =/

Depois de escrever um pouquinho, fazer um rascunho e tentar expressar o que queria fazer, mandei essas anotações para a professora e ela me direcionou; o processo continuou sofrido, só que um pouquinho menos, e quando eu fui fazendo algumas leiturinhas e concatenando as ideias e conseguindo amarrá-las foi lindo! Mais lindo ainda foi ver que depois de tanto me achar incompetente/incapaz/burra, eu consegui acabar de escrever o artigo (com infinitas 15 páginas!) e o enviei para a professora antes mesmo que o prazo de entrega acabasse. Não faço ideia se ele alcançou o objetivo que ela esperava, mas certamente alcançou os meus. Fiquei muito satisfeita com o que escrevi, orgulhosa do que escrevi, mesmo que os historiadores possam achar uma bosta, foi uma bosta escrita com muito esforço e dedicação! E eu adorei! Espero que dê para passar na disciplina e agora só falta escrever o projeto do mestrado, para sofrer mais um pouquinho porque desafio pouco é bobagem para mim! (haha, quem vê, pensa!)

Escrever esse artigo e poder concluir essa disciplina foram os grandes desafios acadêmicos que venci este ano. Não foi só um artigo, foi uma prova de que sou capaz; de que se só gente muito inteligente consegue, fazer isso me colocou no mesmo grupo que eles, no grupo das pessoas que conseguem fazer tudo o que elas quiserem. Provei para mim mesma que se desafiar pode ser muito prazeroso e compensador. Eu posso!

Vem pra mim, mestrado, vem que eu sou PHoda!


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