quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Hoje

Hoje, cortei meus pulsos de cima abaixo, fundo, com a navalha mais afiada que pude encontrar. Vi minhas veias pulsando o horror da vida doente, esguichando o sangue que corre em mim. Vi minha carne viva, minha dor latente, meu desejo de morte.

Hoje, lancei meu carro num precipício de terra batida e mato alto. Caí no mar do mundo. Afundei minhas expectativas enquanto a pressão da água quebrava os vidros e invadia os meus pulmões me fazendo sufocar. Vi peixinhos coloridos e percebi que o que há em cima é o mesmo que há embaixo.

Hoje, ateei fogo em mim mesma com a gasolina do posto que vende combustível a preços abusivos. Descobri que se matar sai caro, enquanto minha pele se desfazia caindo aos pedaços e eu sentia o cheiro de carne esturricada; enquanto as chamas me deformavam e eu gritava de desespero.

Hoje, me enforquei com um lenço bonito de bolinhas brancas, pendurado no batente da porta do banheiro. Asfixiei-me até que meus olhos ficassem vermelhos de sangue e minha língua azul e inchada para fora. Agonizei sapateando no ar, até que eu fosse embora.

Hoje, quebrei meus ossos e me espatifei quando me joguei lá de cima. Do alto de onde eu vim. Saltei para a liberdade do universo. Gritei vendo o chão à minha frente sem poder freá-lo. Mas não tirei os sapatos; não tinha intenção de fazê-lo.

Hoje, desisti dessa vida de miséria, rodeada de pessoas igualmente miseráveis e vis. Não tenho mais desculpas para continuar com o karma. A vida segue, sempre segue, não pode parar, nunca.

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