quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ático

Subi lá em cima - pleonástico eu sei, mas é que não subi um ou dois andares, subi até láááá em cima, no topo.

Eu subi, e não tinha qualquer intenção de fazer besteira. Trabalhava naquele prédio, já havia cinco anos. Cinco anos indo quase todos os dias até o sétimo andar. Pegando o elevador com aquelas pessoas. Nunca simpatizei com nenhuma delas, mas dividíamos quase todos os dias a caixa claustrofóbica. Eu não ligo pra elevadores, já fiquei preso em alguns. Não dá tempo nem de peidar e o peido feder, porque o socorro sempre vem rápido.

Eu cheguei lá em cima depois de achar por alguns segundos que isso não aconteceria nunca. Quando você está acostumado a descer sempre no mesmo andar, e entra no elevador pra descer em um andar mais alto, parece que você não chega nunca.

Mas eu cheguei. Subi mais um lance de escadas até o ático. O vento batia forte, muito forte. O vento seco gelava meu rosto e me fazia sentir vontade de sair voando. Fui em direção ao parapeito, encostei nele e olhei pra baixo. Vinte e um andares de empresas, de pessoas, de insatisfação e de gente que se faz de louca. O ambiente de trabalho é sempre uma merda.

Olhei pra baixo e vi umas "formigas". Quis dar uma puta escarrada pra ver onde ia parar. Ninguém iria descobrir, mesmo assim confesso que esse clima de empresa, firma, serviço sempre me passou a impressão de que ainda estamos na escola, e que sempre vai haver dois tipos de filhos da puta querendo te foder: um superior pra te chamar a atenção e um "colega" pra te dedurar por qualquer coisa ou fazer fofoquinha.

Não sou sádico nem nada, mas só quem trabalha nesses lugares sabe o que é pensar em ir armado para a "companhia".

Que merda, acho que pior do que ter alguém mala é ter alguém que tem o desplante de se levantar da sua cadeira, ir até o banheiro e voltar de lá fedendo a desodorante barato. Fora o cheiro de desinfetante atalcado que emana do banheiro feminino.

Mas lá no ático, eu não era obrigado a passar por essas provações diárias. Eu, homem equilibrado, benquisto por todos, com o salário razoável e concernente com a função, olhei lá pra baixo de novo, repousei os braços no parapeito e a cabeça nos braços. Depois de mais um dia em que quase não tive tempo pra nada, depois de mais um dia repleto de atribuições, encheções e complicações, eu vi que mesmo tão cheio, meu dia era apenas vazio, vazio em toda a sua porra de rotina.

Eu chorei então. Chorei, solucei, sequei a salmoura das lágrimas na minha gravata. Chorei mais um pouco. Mentira, chorei tanto que nem o vento seco conseguia dar conta. Chorei compulsivamente.

Fiquei com a cara inchada, o nariz entupido. Então aproveitei e dei a escarrada que queria. Ela subiu quente e salgada pela minha goela. Me recompus e voltei ao sétimo andar.

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